quarta-feira, 7 de abril de 2010

ALQUIMIA E PROCESSO PICTÓRICO




Carlos Dugos
Pedra Cúbica Hermética
óleo s/ tela
116x81
1994


ALQUIMIA E PROCESSO PICTÓRICO
CARLOS DUGOS

....Os temas consagrados no corpo doutrinário, simbólico e técnico da Alquimia são praticados no dia a dia por todos nós, incluindo aqueles que ignoram completamente a existência da arte hermética.
Dado que ela se estrutura sobre as coisas da natureza e a natureza das coisas, de um modo universal e absoluto, quaisquer pensamentos ou actos humanos, quaisquer factos biológicos ou astronómicos expressam dados que, por analogia, coincidem com princípios alquímicos.
Dado que ela se estrutura sobre as coisas da natureza e a natureza das coisas, de um modo universal e absoluto, quaisquer pensamentos ou actos humanos, quaisquer factos biológicos ou astronómicos expressam dados que, por analogia, coincidem com princípios alquímicos.
Não têm aqui lugar exemplos detalhados, limitando-nos a convidar quem tiver da Arte Real um conhecimento genérico, a experimentar traduzir para símbolos ou conceitos herméticos as questões mais banais ou mais relevantes da realidade. Será essa a forma privilegiada de demonstrar o que acima se afirmou.
No presente caso, o nosso objectivo consiste em estabelecer algumas analogias entre o exercício da Arte pictórica e os temas alquímicos correspondentes.

Por origem, a pintura é uma Arte tradicional. As técnicas gráficas e cromáticas de representação, produzindo como que “duplos” das entidades envolvidas num tema, foram arcaicamente associadas à magia operativa, especialmente no que respeita à “evocação”. Com efeito, representar é evocar; e, se em certos casos tal prática produz “duplos” de duração efémera - exemplo das modalidades sonoras e mímicas - na pintura, tal como em outras Artes com suporte plástico, a durabilidade da evocação prolonga-se pela vida, mais ou menos longa, desse suporte. Entra-se assim no domínio da iconologia ou seja, o conhecimento da Arte de “espelhar”, em que a reprodução reflecte o original.
O ícone é, pois, o espelho de algo; no entanto, para que a representação alcance as propriedades reconhecidas no modelo, há que manter a fidelidade às características deste, não só na semelhança visual mas, sobretudo, na simbologia gráfica e cromática que lhe é própria, de modo a que, nos planos mais sensíveis da realidade, a coincidência entre original e cópia, atinja um elevado grau de analogia.
Por exemplo, a Arte do ícone, tal como permanece na tradição católica ortodoxa, obriga a cuidados especiais na pintura sagrada, particularmente na obtenção e preparação de pigmentos, técnica que se mantém em regime de segredo, unicamente transmitida por via iniciática, de mestre a discípulo. E isto, porque a fidelidade à cor canónica restringe a paleta a um conjunto de cores imutáveis, somente conseguidas mediante pigmentos únicos e de origem exclusiva, entendendo-se que só esses e não outros, são susceptíveis de se identificarem com o fim temático a que se destinam e a produzirem as tonalidades simbólica e ritualmente actuantes, que mais se aproximam do modelo.
Falando-se de vermelhos e azuis, cores base de todo o cromatismo, a indefinidade de tonalidades é imensa; e sendo que cada cor corresponde a um princípio, as tonalidades obtidas pela sua mistura referem-se aos princípios nela participantes, tendo em conta a proporção em que aí se encontrem.

CORES PIGMENTOS PLANETAS E METAIS
A doutrina tradicional do Ocidente estabelece correspondências analógicas, indicando que as sete cores correspondem aos sete planetas da Astrologia e aos sete metais da Alquimia.
Convem assinalar que, nestes casos, tal analogia funciona mediante algumas adaptações. Não se organizando por modelo sistemático - como acontece com os postulados clássicos da ciência profana - mas constituindo-se de modo sintético, as doutrinas tradicionais aproximam o que é da mesma natureza arquétipa, sem a preocupação de um rigor absoluto nas correspondências. Tal preocupação seria de resto vã, na medida em que nada, na natureza, é perfeitamente coincidente, já que o mesmo princípio, quando expressado por modalidades diferentes, ou em diversos planos de realidade, apresenta ligeiras modificações que impedem as transposições literais.
Por exemplo, a “cor” negra, atribuída a Saturno e ao chumbo, não existe na paleta cromática; trata-se mesmo da ausência total de luz e cor, ou seja a sua vibração está para além da gama cromática perceptível pelo sistema ocular humano.
Quando em Alquimia se fala do nigredo refere-se o produto da uma carbonização, associada naturalmente à negrura, eventualmente coincidente com os vários negros das oficinas de pintura, todos eles oriundos de carbonizações, sendo o mais famoso obtido pela queima do marfim.
Porém usa-se, na terminologia hermética, a designação de asa de corvo para definir a coloração da substância carbonizada e, aqui, verifica-se uma aproximação à realidade cromática perceptível, já que como dissemos, o negro não se “vê”. Em sua representação, descobriremos um azul tenebroso, obtido pelo Indigo mais expresso e profundo com eventuais brilhos onde se manifestam as cores do Arco-Íris. Essa asa de corvo, versão mais sublime do nigredo, já não é um simples conceito de trevas absolutas, mas a treva promissora das etapas seguintes, correspondente à radiação próxima do ultra-violeta, com os seus “negros” violáceos, tão bem conhecidos dos pintores e que lhes serve para dar corpo e espaço às zonas mais obscuras da obra.
Igualmente, o branco não existe; também ele fica aquém da percepção visual. Para o observador mais atento, nem a mais pura neve é “branca”, no sentido absoluto do termo. Conhecida como é a capacidade dos cristais para refractarem a luz, transformando-a em cores, por intervenção da sombra, será pouco convincente que um grande conjunto de cristais, como é um campo nevado, possa ser, em rigor, considerado branco. Um olhar mais próximo e atento descobrirá que essa aparente brancura é formada por milhões de partículas cromáticas, brilhando na cores do Arco-Íris.
De acordo com a analogia tradicional entre o branco, a Lua e a prata, o albedo, ou obra ao branco, diz respeito, mais propriamente, ao regime da prata. Ora a prata jamais foi branca, como a Lua o não é, mesmo no máximo esplendor da sua rotundidade. Também neste caso, como quanto ao negro, a brancura não passa de um conceito.
Correspondendo a um espelho luminoso e liso por fora, tenebroso e grosseiro por dentro, a prata exalta a exteriorização da luz, mediante a oposição da treva; a luminosidade extrema de uma gota de mercúrio, manifesta-se devido à densa obscuridade que vive no seu interior. Neste tipo de corpos a luz não é absorvida, antes reflectida, apresentando por isso as várias modalidades cromáticas envolventes que nele se vêm espelhadas.
Para o pintor avisado, todo o “branco” será vivo e vibrante, como o deve ser todo o arauto da luz e terá de reflectir, embora da forma mais subtil e ténue, as cores envolventes, de preferência as do – sempre ele – Arco-Íris.
Há séculos que os pintores usam os carbonatos de chumbo quando pretendem os brancos mais luminosos; no entanto os artistas não devem esquecer que, sendo o chumbo filho metálico de Saturno, a alvura com que aí se assinala a suprema realeza divina, tende sempre à rápida oxidação, ou não fora aquele deus vítima da sua própria condição temporal, sobretudo enquanto Cronos, entidade votada à oxidação do tempo, à perda de brilho, à velhice e ao exílio.
Existem pequenos segredos para conservar, com alguma frescura e durante séculos, a limpidez dos carbonatos de chumbo, tendo-se sobretudo em atenção o medium interventor. O erro maior, em que reincidem muitos coloristas, é o de misturarem o branco de chumbo, vulgarmente chamado de prata, com outros pigmentos, na intenção de aclararem os tons. O estigma da velhice plúmbea que Saturno suporta razoavelmente na solidão, quando associado a outros metais ou planetas, revela-se rapidamente destrutivo, produzindo neles uma corrosão súbita e acentuada.
Os cuidados a ter nestes casos são extensivos aos cromatos de chumbo que, manifestando o oiro virtualmente existente no metal de Saturno, produzem os inigualáveis amarelos, ditos de cromo, aptos a transmitirem cromaticamente o esplendor solar. A mistura de tais aristocratas com pigmentos mais modestos é mutuamente destrutiva, revelando-se aí a face demoníaca do Sol que tudo queima, sendo de aconselhar o uso do amarelo de cromo puro como base, protegendo-o após a secagem com um bom isolante transparente, depois do que, ao modo de velatura, se pode cobrir com ténues véus de outra cor, obtendo-se pela transparência o que numa mistura directa seria catastrófico.
Ainda sobre os brancos de oficina, pode indicar-se o de zinco, na forma de óxido. Sendo o zinco da parentela do tradicional estanho, atribuído a Júpiter, não é de estranhar uma tendência inata para “azular”, por coerência com a cor emblemática do Rei dos deuses. Esta espécie de metamorfose determina uma tonalidade baça. No entanto, misturado com cores sólidas é relativamente estável.
Modernamente, o dióxido de titânio congrega em si as melhores qualidades dos outros brancos, sendo aconselhável a sua utilização em qualquer caso ou mistura. Embora também se trate aqui de um familiar do estanho, o titânio mantem inalteradas as qualidades reais de Júpiter, apresentando-se, por isso, sereno e estável.
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Depois da carbonização mortal do nigredo; depois das purificações sucessivas conduzindo ao albedo, a matéria alcançada entra num regime de manipulação particularmente intenso, última fase da obra a caminho do rubedo.
As múltiplas variedades de vermelho, com que os mestres descrevem a coloração da substância assim produzida, evocam de pronto a presença guerreira de Marte, quer devido à violência dos processos usados para aí se chegar, quer à natureza que, então, anima a nova pedra.
Em pintura, estamos, neste caso, perante os óxidos de ferro – vulgo ferrugem – obtidos pela acção húmida do elemento líquido sobre o ardor marcial.
Estes pigmentos revelam-se arrogantes e agressivos, de acordo com a sua origem e natureza. Ares, o Marte helénico, governa o signo astrológico de Aries, o carneiro impetuoso, cuja cabeça, em bronze, constituía a peça de percussão do aríete, artefacto militar com que se arrombavam as portas das fortalezas, durante os assaltos.
Do mesmo modo que o pintor disciplina e conduz o potencial dessa agressividade, para obter dos vermelhos a docilidade promissora de um Agnus Dei, o alquimista usa a extrema vitalidade manifestada pelo espírito do ferro e elabora a Obra durante o signo astrológico do Carneiro, governado por Marte, substituindo as hordas de milicianos prontos ao combate, pelos rebanhos pacíficos e fecundos.
Do mesmo modo que o ardor militar conduz o herói à vitória, sendo-lhe então imposta a coroa, o ardor da fé leva o crente à dádiva heróica da vida, em nome da sua crença, sendo-lhe então conferido o emblema vegetal da palma. O mesmo princípio, representado por Marte guerreiro, conduz a sua prole, seja a ela a das espadas que ousam, ou a da espiritualidade irredutível, via esta que é designada por um vocábulo saído directamente do nome do deus da guerra – o martírio.
Existem outros vermelhos não ferrosos. Por exemplo, o cádmio, sendo uma espécie de zinco pertence à casa dos estanhos, governados por Júpiter, Rei dos deuses. Neste caso a coloração vermelha não vem por via guerreira directa, mas pela sua sublimação na forma real. Em pintura, os sulfuretos mais ou menos puros, deste metal, produzem belos vermelhos e amarelos, de grande luminosidade, mas com tendência para “azularem”, tornando-se baços, quando misturados com outros pigmentos, em particular os que produzem brancos.

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Negro, branco e vermelho constituem as cores base da Obra, já que todas as outras são modalidades específicas ou misturas destas três. Se observarmos a fenomenologia das cores a partir da doutrina tradicional dualista, em que a realidade absoluta, para manifestar-se, tem que cindir-se num par de opostos, teremos presente o conceito de Goethe, segundo o qual, genericamente, a cor provém da síntese entre os efeitos da luz e da treva. Várias experiências ópticas podem demonstrar esse postulado.
Assim sendo, existem duas “famílias” cromáticas: a oriunda da treva – os azuis e a oriunda da luz – os vermelhos. Com efeito, a luz vista através da treva apresenta-se vermelha - como o demonstram certos pôr-de-sol espectaculares - enquanto a treva, vista através da luz se torna azul, tal como se pode constatar, ao olhar-se o céu, negro por natureza, como todo o espaço exterior à Terra, tingido de azul pela luminosidade da atmosfera que aí se interpõe.
Deste modo - e embora pareça estranho – podem considerar-se certos amarelos, particularmente os de cádmio, como uma modalidade de vermelho, ou os verdes oriundos dos ftalocianinos de cobre, como modalidades de azul.
Entre amarelos e vermelhos, passando pelo conceito de laranja, que tanto pode ser um amarelo mais tinto como um vermelho maios claro, existe uma indefinidade de nuances, todas elas oriundas do vermelho. Igualmente, entre azuis e verdes, passando pelo tom chamado turquesa, que tanto pode ser um azul esverdeado como um verde azulado a gama é vasta, sendo que aí impera, como base, o azul.
No limite extremo dos vermelhos encontraremos um amarelo ácido, muito claro, por vezes designado por limão – cádmio, tal como no limite do azul surgirá um tom cerúleo muito claro– ftalocianino de cobre. Do encontro, ou mistura, entre estas duas estirpes aparece, como síntese, um verde vibrante e particularmente luminoso; dele não se pode dizer que pertence aos vermelhos ou aos azuis, porque será como um crioulo, em que se misturam dois sangues, duas expressões diametrais de dois princípios.
E esse verde é, afinal, o meio termo de equilíbrio entre o Céu branco, em pura luminosidade, correspondendo cromaticamente ao vermelho e a Terra, negra, em completa treva, representada na manifestação sensível pelo azul. Trata-se, neste caso da cor central da natureza verdejante e fecunda, vivendo entre o elemento aéreo da atmosfera celeste e o elemento ctónico da densidade terrestre. Esse verde é a cor emblemática de Vénus, patente na maçã que a deusa ostenta; nele revive, em permanente recomposição, a vida, ciclicamente regenerada ou “re-gerada”, contendo em si os elementos uranianos e telúricos, consubstanciados numa nova unidade, representada pela manifestação do ser.
Como ultima nota, sobre este aspecto, não esqueçamos que este verde encontrado pela síntese entre o princípio das trevas e o da luz, corresponde, de outro modo e noutro grau, à púrpura, uma modalidade de violeta, obtida a partir da mistura do azul e do vermelho, respectivamente aludindo à verdade e ao amor, na emblemática iconográfica. Ainda relativamente ao papel regenerador de Vénus, lembremos que, se o manto da Virgem Maria é azul, a sua túnica é vermelha.

VOLATILIZAR O FIXO – FIXAR O VOLÁTIL

A dualidade, que anteriormente definimos como sendo o mistério, ou o processo central da manifestação, continua a servir-nos de condutor, na compreensão dos mecanismos da Obra de Arte, seja ela pictórica ou alquímica.
Uma manivela simples, em acção, produz um efeito giratório a partir de duas “viagens” complementares. A um movimento circular de cima para baixo, do zénite ao nadir pela direita, opõe-se um movimento circular, de baixo para cima, do nadir ao zénite, pela esquerda. Isto, naturalmente, seguindo-se a direcção dos ponteiros do relógio. Procedendo-se em sentido inverso, sobe-se pela direita e desce-se pela esquerda, sendo o efeito geral o mesmo. Estas duas “viagens” ou ciclos produzem, por movimentos sequencialmente opostos, um terceiro movimento - síntese dos anteriores – este, circular linear e contínuo.
Os sistemas duais, complementados numa síntese, estão patentes em todas as estruturas do real, com maior ou menor evidência, podendo mesmo avançar-se que o processo da manifestação é, em todos os casos, marcado por este mecanismo. A acção recíproca, desencadeada entre um par de opostos, gera a manifestação, apresentando-se esta como a síntese das polaridades interventoras.
Exemplos constantemente evocados, como negativo-positivo; macho-fêmea; luz-treva; inspiração expiração - e tantos outros que, por menos evidentes não deixam de ter igual importância - de pouco valem, quando a sua observação se limita a constatar a dualidade complementar, ou simplesmente antagónica, que os caracteriza.
A síntese dos contrários corresponde a um imperativo vital. A aparente repulsão pelo oposto revela-se como uma modalidade de atracção; e a cadeia de reacções permanentes e universais que essa atracção suscita constitui o modus operandi da realidade. O seco aspira ao húmido, como a Terra aspira ao Céu. O barro e o ser provêm da consumação dessas aspirações.
Tendo uma origem celeste e um destino terrestre, o Homem manifestado cumpre-se plenamente na integração unificada desta duplicidade. Faltando-lhe o espírito, ou faltando-lhe o corpo, faltar-lhe-ia uma das partes constituintes da sua natureza. Partes diferentes, em grau e qualidade, mas ambas veneráveis, se cada uma delas ocupar o lugar que lhe é próprio no conjunto da realidade. Partes opostas, decerto, sujeitas à regra da atracção, atrás referida e cuja reacção mútua produz como que uma unificação dos opostos, num terceiro termo.
Em simbólica geométrica, o Céu – assimilado ao espírito – representa-se pelo círculo e a Terra – assimilada ao corpo – por um quadrado. O produto reactivo destas naturezas opostas corresponde à figura da quadratura do círculo, imagem em que o quadrado parece arredondar-se e o círculo ganhar alguma angulosidade. Em Maçonaria, o compasso reporta-se simbolicamente ao Céu e o esquadro à Terra. A ascese iniciática do maçon tem por paradigma emblemático o compasso e o esquadro entrelaçados.
Esta mistura de duas naturezas antagónicas toma, alquimicamente, uma indefinidade de alegorias, símbolos e emblemas como, entre tantos outros, é o caso das bodas e do andrógino. No entanto, é no apotegma solve et coagula, que se encontra uma indicação precisa, quanto ao modo de operar sobre cada uma das naturezas opostas, para as afeiçoar reciprocamente, extraindo-lhes o carácter radical que apresentam em estado “bruto”.
Dissolver e coagular, volatilizar e fixar, expandir e contrair, expirar e inspirar, eis algumas associações que aproximam a intuição ao tipo de acções opostas - veja-se mesmo contraditórias – que a Arte hermética propõe como prática quotidiana e continuada por parte do adepto diligente.
Volatilizar o fixo será dar asas à pedra; impregnar de leveza o pesado; dar espírito ao corpo. Fixar o volátil será concentrar o que está disperso concretizar o abstracto; dar corpo ao espírito.
Estes dois movimentos opostos - recorde-se a manivela – tornam-se inúteis para a Obra, se forem realizados sequencialmente. Desde sempre, os mestres - os operativos como os especulativos - afirmaram que os dois movimentos se operavam num só gesto, ou seja, que a duplicidade é - aqui como em muitos outros casos – aparente, já que, ao fixar o volátil, se está simultaneamente a volatilizar o fixo, ou vice versa.
Também o pintor, quando se serve das tintas, para exprimir um tema, na tela, corporiza, aprisiona e torna “fixa” uma ideia que, por natureza, é incorpórea, livre e volátil. Simultaneamente e no mesmo gesto, ele subtiliza, liberta e torna volátil o corpo da tinta, por natureza inerte e pesado, no cárcere da sua condição substancial.
Nesta dupla acção, executada pelo artista num único movimento, invertem-se as polaridades conflituais, espiritualizando-se a matéria e materializando-se o espírito. Como síntese, fica a Obra, na qual pensamento e substância se encontram já indissoluvelmente integrados, numa verdadeira quadratura do círculo, bodas sagradas entre o Céu e a Terra, lugar de confluência entre as duas Jerusalém.

ENXOFRE, MERCÚRIO E SAL

Acerca do ternário alquímico Enxofre, Mercúrio e Sal podem indicar-se, muito sumariamente, algumas particularidades que estão presentes no acto de “criação” artística.
Existem modalidades indefinidas de ternários, cada uma delas especificando um dos múltiplos dispositivos oriundos da triplicidade. Infelizmente tornou-se prática comum, por parte de estudantes de simbólica mais precipitados, assimilarem, entre si, ternários que exprimem realidades completamente diferentes. É frequente deparar-se, por exemplo, com a identificação do ternário alquímico que aqui tratamos, com o ternário teológico Pai, Filho e Espírito Santo. Tais confusões, como sempre acontece nestes casos, impedem uma consciência efectiva e profunda dos temas tratados, pelo que vale a pena expor, brevemente, a diferença entre os ternários propostos a exemplo.
Com efeito, enquanto no primeiro caso temos dois termos opostos que se estabilizam num terceiro, numa fórmula que graficamente se pode representar por um triângulo com o vértice virado para baixo, no segundo, “ um só Deus em três pessoas distintas” teremos uma triunidade essencial e formal, em que todos os termos se equivalem, nenhum se opondo, nenhum estabilizando nada e, neste caso, teremos um símbolo gráfico na forma do triângulo equilátero, ele próprio estabilizado na tríplice unidade e, logo, assente num dos lados.
Continuando numa exemplificação geométrica, a acção do Enxofre, princípio ígneo, activo, central, celeste, pode representar-se por um traço vertical e a reacção do Mercúrio, princípio húmido, passivo, periférico e, de certo modo, terrestre, pode representar-se por uma linha horizontal. O ponto de encontro entre as duas direcções corresponderá à posição do Sal.
No entanto, para melhor elucidação do aspecto que aqui nos interessa particularmente, entenda-se uma circunferência com o ponto central marcado, sendo que, neste caso, o ponto corresponde ao Enxofre e a circunferência ao Mercúrio. O Sal estará, neste caso, num círculo intermédio entre o centro e a periferia.
A acção do Enxofre dirige-se ao Mercúrio, ou seja, do ponto central à linha periférica, ficando assim expresso o seu carácter centrífugo. A reacção do Mercúrio suscita um movimento da periferia para o centro, de acordo com o seu carácter centrípeto. A propriedade centrífuga do Enxofre prende-se com o sentido expansivo deste princípio, na sua qualidade de “suscitador activo” e viril espalhando à sua volta centelhas ou estímulos “espermáticos”. Por seu lado, o Mercúrio reage a tais estímulos do um modo centrípeto, aprisionando o seu conteúdo, encerrando em si e centralizando, de forma dir-se-ía uterina, feminil e fecunda a centelha suscitadora.
Com efeito o “tempo” solve é próprio do Enxofre, tal como o “tempo” coagula o é do Mercúrio. O “tempo” em que ambos se unificam, em simultaneidade, é o fluir da manifestação, representada aqui pelo Sal, produto das complementaridades em interacção.
Devido às limitações próprias da manifestação e ao grau secundário que lhe cabe, no conjunto da realidade, não existem nela condições para sofrer directamente a acção do Enxofre – princípio eminentemente espiritual. Neste caso, o Mercúrio desempenha uma das suas funções principais, como elemento mediador entre dois mundos, qualidade esta que lhe valeu, nas culturas clássicas, a designação de “mensageiro dos deuses”. Receber o estímulo ígneo, dissolvente e incorpóreo do Enxofre, dar-lhe humidade e comprimi-lo, preparando-lhe um “corpo” - Sal - susceptível de ser manifestado, eis o papel do Mercúrio, enquanto plano em que se reflecte a vontade do Céu.
Por outro lado, o Enxofre corresponde ao aspecto mais interior do ser, aquele que, no Homem, é habitado pela partícula divina, enquanto o Mercúrio corresponde ao exterior, ao meio envolvente, seja ele um meio anímico ou corporal.
O mecanismo da chamada “inspiração” artística é análogo ao processo acima descrito. Associado à acção do Enxofre, o estímulo inspirador, pela sua natureza ininteligível e pelo modo paradoxal como se exerce – recôndito e expansivo; particular e universal – necessita de um plano de reflexão que o apreenda e lhe outorgue forma perceptível, não propriamente ao modo de uma ideia mas de um sentimento nítido e específico. Essa definição, em termos humanos, da mensagem divina, que corresponde ao segredo sussurrado das musas, provém da acção cristalizadora e plasmante do Mercúrio, como entidade psíquica por excelência, preparando a mais pura abstracção, no seu caminho descendente, para o concreto e o corporal.
A ideia consequente a este processo inspirador, será o tema da Obra, seja ele conceptual ou simplesmente estético; e, se sob um certo aspecto o Sal se apresenta centralmente, como o produto da relação entre o Enxofre e o Mercúrio, sob outro ponto de vista, tão oportuno quanto o primeiro, é o Mercúrio que marca, pela sua natureza mediadora, o centro do percurso que vai do Enxofre ao Sal.
Finalmente, a Obra de Arte está acabada e o seu nome é Sal. O pintor revê-a longamente, encontrando sob o véu cristalino da sua aparência física, quanto nela há da acção original do Enxofre, simples sensação carecendo ainda de uma ideia que a expressasse. Descobrirá também os traços da reacção mercurial, a “substancializar” psiquicamente o conteúdo da mensagem celeste, decifrando-a em sentimento e ideia, proporcionando-lhe uma alma, para que pudesse tornar-se corpo.

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Na Alquimia como na pintura representa-se, embora em modalidades diferentes, a operatividade da Arte. E aqui o, conceito de arte distancia-se muito das definições que, sobre a matéria, disciplinas teóricas como a história e a crítica de arte contemporâneas convencionam.
Na verdade, a ideia de Arte para que apelamos, não se restringe a qualquer modalidade específica; antes corresponde à percepção de um mistério universal cuja expressão consiste em alterar a morfologia dos corpos em estado nativo, para os “resubstancializar” idealmente. Em conformidade, o conjunto da actos manipuladores, executados sobre a matéria da obra, constitui, a despeito de toda a divulgação, um segredo de magistério, oriundo no mistério sob a égide do qual se actua.
Sendo por definição tradicional uma criatura, o Homem não pode ser, simultaneamente, um criador. Tal condição permite-lhe unicamente recriar, a partir dos procedimentos canónicos de um magistério, ou seja: operar de acordo com um código magistral, inscrito no próprio mistério da Criação.
Esta unicidade original das artes manipuladoras permite-nos aproximar a prática alquímica de qualquer outra prática operativa, dentro do contexto geral da Arte Real, nas suas múltiplas vertentes e aplicações. Pelo seu carácter extremamente sumário, o presente trabalho procura constituir um estimulo ao estudo mais aprofundado da questão, tendo em conta que o mais importante não é a multiplicidade das artes, mas a raiz primordial que as suscita a todas.
Carcavelos, Maio de 2000

SIMBOLISMO DA PEDRA, por Carlos Dugos


SIMBOLISMO DA PEDRA
Correspondências maçónico-alquímicas
Carlos Dugos

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RESUMO
Na tradição ocidental, o simbolismo da pedra constitui um tema maior, sobretudo nas vias múltiplas da Arte Real. Às várias pedras maçónicas, indicadoras de outros tantos graus iniciáticos, correspondem, mais ou menos directamente, os diversos estados da pedra alquímica, ao longo da Obra. Do ponto de vista religioso, o cristianismo apresenta valores semelhantes, fazendo da pedra um elemento simbólico central da doutrina salvífica.
Ao contrário do que frequentemente se crê, tais coincidências não têm origem em processos de adopção, em que símbolos preexistentes são enxertados arbitrariamente numa corrente particular; elas correspondem à coerência de um único repertório simbólico específico, próprio para servir de suporte a uma determinada doutrina e à acção em consequência.
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ESPECIFICIDADE DA ARTE REAL

A Arte Real, nas suas várias modalidades, constitui um código espiritual de conhecimento geminado com um código técnico de acção. O que se sabe reflecte-se directamente no que se faz e o que se vai fazendo reflecte-se directamente no que se vai sabendo.
Deste modo, à Iniciação Real estão ligados dois deveres iniciáticos: conhecer as causas espirituais da realidade não manifestada e agir materialmente, de modo canónico, sobre os efeitos da manifestação; mais sinteticamente: saber, em potência e operar, em acto. A divisa alquímica ora et labora é, neste aspecto, exemplar.
Nas várias disciplinas iniciáticas de manipulação ou transmutação da Natureza, cabem praticamente todos os arquétipos da actividade humana, desde as artes e ofícios ao exercício da guerra1; no entanto, devido ao âmbito em que incide a sua acção, Alquimia e Maçonaria2 encontram-se em grande proximidade.

PEDRA DE OBRA E PEDRA OCULTA

A pedra que o construtor toma para ser afeiçoada e integrada no edifício, corresponde ao lapis que constitui a matéria prima a manipular no matraz.
Porém, quer uma quer outra, independentemente da utilidade material de que possam vir a revestir-se, representam o aspecto mais exterior da Obra ou seja: apresentam-se apenas como resultado de uma acção exercida, pelo oficial, sobre a manifestação. Esse resultado, em tudo semelhante ao efeito do espelho, projecta na manifestação princípios não manifestados, estes de carácter eminentemente interior.
Assim, pode afirmar-se que, a pedra visível e palpável sobre a qual opera o manipulador, é a manifestação de uma pedra oculta, invisível e impalpável. Esta pedra - causa espiritual - determina e condiciona a pedra da Obra - efeito material. Entre elas, como elemento de ligação mediando dois mundos e duas ordens de realidade, o operador realiza a acção perfeita que é a de representar materialmente, na manifestação, o sentido e a ordem transcendente, numa acção dupla e simultânea, impregnando a matéria de espírito e dando corpo à espiritualidade, conforme a regra solve et coagula.
Dissolver o fixo e fixar o volátil eis o permanente labor do alquimista e do maçon. O primeiro reproduz no vaso o drama cósmico da Criação, de modo a rectificar a pedra material, marcada pelo estigma da Queda, de modo a fazer dela um reflexo perfeito da pedra oculta. O segundo toma a pedra inútil e rectifica-a de modo a que ela possa ser parte corporal do Templo, ganhando nessa metamorfose uma condição espiritual que a sua imperfeição nativa não permitiria. Espiritualizar a substância dando substância ao espírito, eis o ofício do manipulador perfeito, com mandato iniciático para o seu labor.

ESTADOS DA PEDRA NAS NOMENCLATURAS SIMBÓLICAS

A Tradição distingue dois géneros de pedra sagrada ou sacralizada: os aerolitos - porque oriundos do Céu, com todas as consequências simbólicas dessa origem - e as pedras de Obra ou seja, as que são objecto de manipulação iniciática. O aerolito, correspondendo a uma descida de um princípio celeste à manifestação terrestre, tem por complemento o bétilo, representando uma subida de um elemento terrestre à espiritualidade celeste.
No caso presente, interessa-nos exclusivamente a pedra manipulada canonicamente que, tendo no bétilo o seu arquétipo, constitui sempre um modo recíproco de espiritualizar a substância, materializando o espírito.
Tomando como dupla referência as tradições hermética e maçónica, estabeleçamos as analogias entre a pedra alquímica, enquanto matéria prima da Obra, e a pedra do construtor, enquanto módulo individual do Templo. Partindo deste princípio, consideremos, analogicamente as fases fundamentais da Obra do alquimista e do maçon.
A fase hermética do nigredo, em que a matéria escolhida é "carbonizada" destina-se a provocar a sua morte física - putrefacio - condição primeira para um eventual renascimento in gloria. Marcado pelo luto das trevas, este momento constitui uma "paixão" no sentido teológico do termo. Tal dissolução morfológica destrói a escória corporal, tomando a massa um aspecto cadavérico. Não obstante, sob tal aparência, algo palpita no seu interior, indicando que a morte é um mero efeito iniciático e não uma causa absoluta.
Bem assim, a Pedra Bruta maçónica é negra e sobre ela se faz o primeiro trabalho do recém iniciado que, vindo das trevas mortais em que todo o homem nasce, viu uma réstia da luz, ao terceiro "golpe". Esta pedra disforme, aparentemente inerte, guarda igualmente, em si, o germe modular de uma metamorfose. Aprendendo de pronto os ensinamentos da Iniciação, o novo Aprendiz transmite à Pedra Bruta , por três "golpes", a luz que do mesmo modo lhe foi dada. Com isto, torna dúctil a morfologia áspera do mineral, transmitindo-lhe um sopro do espírito, como prelúdio de uma fase mais avançada da Obra.
O albedo hermético tem o seu tempo quando a escória negra da pedra calcinada apresenta, em alguns pontos, o brilho do diamante negro. É o sinal de que o cadáver se anima de uma insuspeitada vitalidade. Trata-se, então, de libertar essa emanação de todo o carvão que a envolve, de forma a que, devidamente purificada e isolada, ganhe o esplendor brilhante da neve, um fulgor de alvura e de pureza dificilmente atribuível à natureza, no seu estado nativo. Ao corpo renascido juntou-se agora uma "alma".
Essa brancura é também emblemática da Pedra Cúbica, na qual o Companheiro maçon aplicou a sua Arte purificadora. A escória que enegrecia o minério e lhe dava uma forma caótica, foi desbastada até se obter a perfeição do cubo, entidade geométrica associada à volumetria das quatro, das seis e, potencialmente, às sete direcções do espaço, ou outras tantas qualidades arquétipas da realidade. Agora, a pedra é uma fonte de conhecimento e ensinamento.
Mantendo um regime de fogo e tempo, que a Alquimia tem por adequado, a pedra alva ganha novas coloração e alcança o rubedo. Não há - dizem os manipuladores afortunados - nenhum vermelho na Natureza que se assemelhe ao esplendor rubro dessa matéria sublime. Alegoricamente ela é a coroa real de toda a Obra; o ponto mais alto a que o artista dedicado esperaria chegar. A partir de então já nada se pode acrescentar ou subtrair à pedra excelsa. Espírito e matéria são uma só coisa.
Também a Pedra Cúbica de Ponta deve ser representada a vermelho. À perfeição do quadrado, foi adicionada a natureza divina do triângulo; ao cubo do espaço veio juntar-se a pirâmide de tempo. Depois de muito labor e meditação o Mestre maçon alcançou, também ele, a coroa da sua Arte, produzindo uma pedra em que se consubstanciam o Céu e a Terra, numa única e nova natureza.

OUTRAS PEDRAS COINCIDENTES

A Pedra Filosofal alquímica, constitui uma particularidade contida na natureza da Pedra Rubra, do mesmo modo que a Pedra de Chave maçónica representa uma especificidade incluída no contexto geral da Pedra Cúbica de Ponta. A primeira reporta-se a um sentido temporal de eternidade - a sua posse equivale, alegoricamente, a viver-se para sempre, livre de doenças e da morte. A segunda está associada à ideia do espaço infinito - sendo ela o remate central da abóbada do Templo, o que equivale a dizer-se a abóbada celeste, constitui o suporte do Universo3.
A Maçonaria conhece ainda a Pedra Angular ou de Fundamento, cornerstone cuja implantação, no início de uma obra de edificação, é praticada mediante um rito próprio que, na versão profana da construção civil, foi substituído pela cerimónia do lançamento da "primeira pedra". Tal rito está ligado à ideia de início; primeiro impulso, em tudo conforme com o simbolismo de Janu a divindade latina propiciadora de todos os começos, já que presidia à porta que mediava entre o fim de um ano e o começo de outro, numa clara alusão ao carácter solsticial desta entidade4.
Como se depreende, o simbolismo desta pedra remete para a matéria prima inicial da Obra, seja ela a Pedra Bruta ou a substância escolhida para a manipulação alquímica.

COINCIDÊNCIAS RELIGIOSAS

A corrente religiosa cristã, a cuja tradição estão associadas praticamente todas as modalidades ocidentais da Arte Real, incluindo a Alquimia e a Maçonaria, tem na pedra uma das suas principais figuras simbólicas. De resto, o simbolismo da pedra é universal, particularmente nos povos sedentários e, sobretudo, devido à unidade da Tradição Primordial, de onde provêm todas as tradições particulares.
De um modo geral, uma pedra é tomada como símbolo de um homem, em termos individuais, enquanto o conjunto ordenado de pedras - o Templo - simboliza o colectivo da Humanidade.
Pedro foi chamado a tornar-se a pedra de fundamento da futura Igreja já que, do ponto de vista pastoral, a pedra perfeita personificada pelo sucessor de Cristo, serviria de modelo às outras pedras formadas pelo colectivo dos crentes, sendo a Igreja o próprio conjunto assim formado.
Recorde-se, por outro lado, o anúncio evangélico de que o Templo derrubado seria reerguido em três dias, correspondentes à paixão, morte e ressurreição de Cristo e, bem assim, às três fases da Obra hermética e aos três tempos da mestria maçónica.
Estas consonâncias entre conteúdos religiosos e iniciáticos nada têm de estranho e não configuram de modo algum um contencioso hierárquico entre as duas instituições. A via da fé e a via da Iniciação correspondem a caminhos paralelos, oriundos de um princípio comum. Tal identidade é particularmente notável no cristianismo, devido à componente de acção evangelizadora que o caracteriza ou seja: do mesmo modo que a Arte Real - como modelo iniciático por excelência - manipula canonicamente o mundo manifestado com vista à sua rectificação, o cristianismo actua sobre a manifestação humana em ordem à sua espiritualização.
A corrente cristã apresenta, na sua origem, um claro sinal do que os elementos do princípio real e activo são nela predominantes sobre os elementos do princípio sacerdotal e contemplativo. Jesus nasce sob a égide do Leão da Casa Real de Judá, de tradição guerreira e não no seio das tribus de vocação sacerdotal, nomeadamente a de Levi.
Esta origem - sempre observada pelas ordens da Cavalaria Espiritual do Ocidente - cria uma consonância exemplar entre tradição religiosa e tradição iniciática. O moderno contencioso que opõe a Igreja a certas modalidades de Iniciação não passa de um mal entendido, proveniente do obscurecimento espiritual de certas organizações que, ancestralmente designadas por iniciáticas apresentam, doutrinariamente, todos os sinais da contra iniciação, devido ao seu alinhamento com as fórmulas do racionalismo e do ateísmo militante.
Estas breves notas limitaram-se a aflorar uma temática que, como se compreende é vastíssima. Neste sentido, o único objectivo a que aqui nos propusemos foi o de despertar o interesse do auditório para um estudo pessoal e aprofundado sobre o assunto.

Carcavelos, Julho de 2002
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1. Embora diversa das modalidades ligadas aos ofícios, a Iniciação própria da Cavalaria Espiritual e que cumpre o oficialato da guerra, inclui-se no conjunto da Arte Real, onde representa uma forma activa por excelência.
2. Referimo-nos, como é evidente, à modalidade operativa da Maçonaria, já que, na sua modalidade especulativa, a Ordem não se dedica ao exercício de um mister específico, ligado à pedra e à construção, em geral.


3. Evidentemente, referimos eternidade ou infinito como meras forças de expressão já que, num e noutro caso, conviria mais, em rigor, falar de tempo ou espaço indefinidos.

4. Não sendo agora oportuno alongarmo-nos neste tema diga-se apenas que Janu era patrono dos fabrorum romanos, corporação clássica de construtores, integrada na linha ancestral da Maçonaria operativa. Por outro lado, sendo a Janu consagrado o mês de Janeiro, corresponde-lhe, na cristandade, com o mesmo carácter solsticial, S. João Evangelista, um dos patronos da Maçonaria moderna, de par com o - também solsticial - S. João Baptista.

quarta-feira, 31 de março de 2010

I. Iceberg no Leito

Óleo s/tela
90x90 cm
2006
4.000

II. Paisagem Alpina

Óleo s/tela
81x100 cm
2006
4.000

III. O Manto de Ouro

Óleo s/tela
100x63 cm
2006
4.000

IV. Personagem

Óleo s/tela
81x100 cm
2006
4.000

V. Lençol Nublar

Óleo s/tela
81x100 cm
2007
4.000

VI. Alfa e Omega

Óleo s/tela
100x81 cm
2000
4.000

VII. A Lição de Goethe

Óleo s/tela
116x89 cm
2004
5.000

VIII. A Visita de Hypnos

Óleo s/tela
116x89 cm
2007
5.000

IX. Campo de Batalha


Óleo s/tela
60x70cm
2007
2.500

X. Espelho

Óleo s/tela
100x73 cm
2005
3.500

XI. Saudade

Óleo s/tela
75x54 cm
2005
2.500

XII. Sir Lancelot

Óleo s/tela
73x54 cm
2006
2.500

segunda-feira, 29 de março de 2010

XIII. Noite Antecipada


Óleo s/tela
73x54 cm
2006
2.500

XIV. A Grande Ameaça

Óleo s/tela
75x54 cm
2006
2.500

XV. Nostalgias de Uma Infanta

Técnica mista - óleo
100x81 cm
2003
3.000

quinta-feira, 25 de março de 2010

XVI. Cristal I

Técnica mista
73x50 cm
2009
1.500

XVII. Cristal IV

Técnica mista
75x50 cm
2009
1.500

quarta-feira, 24 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

XX. Garrafa Vazia

Técnica mista
75x50 cm
2009
1.500

CARLOS DUGOS

SUMÁRIO BIOGRÁFICO
Carlos Dugos nasceu em Lisboa, em 1942; os seus primeiros trabalhos de pintura datam de 1957.
No ano seguinte foi viver para Lourenço Marques, então capital de Moçambique. Aí frequentou a escola de Arte - Núcleo de Arte, dirigida pelo pintor João Ayres, trabalhando na companhia de Malangatana, José Júlio, Álvaro Passos e outros artistas moçambicanos.
Por essa época, expôs várias vezes, individual e colectivamente em Lourenço Marques e Joanesburgo.
Regressou definitivamente a Portugal em 1967, instalando-se em Lisboa onde montou atelier, dedicando-se em especial ao apuro técnico do óleo.
Em 1974-75 viajou pela Europa residindo sucessivamente em Zurique e Madrid, contactando com diversos artistas, galerias e museus. De volta a Portugal passou longas temporadas em Sintra e na Ericeira, desenvolvendo um profundo estudo do simbolismo e da Tradição esotérica ocidental. Surgem, por essa altura, os primeiros trabalhos numa linha “metafísica”.
Em 1977 regressa definitivamente a Lisboa. Continuam os estudos de simbólica, entendida como a linguagem espiritual por excelência. Nesse sentido, matricula-se num curso de teologia organizado pelo “Leoninum Orthodoxum Institutum” patrocinado pela Sorbonne. Paralelamente pratica um longo trabalho de oficina, que decide não expor por o considerar de índole puramente experimental; num apontamento de atelier datado de 1980 escreveu: “Em Arte, uma ideia e o sentimento que lhe está associado necessitam de uma linguagem plástica apropriada para lograr expressar-se convenientemente. A procura desse léxico está, para mim, na ordem do dia. Expor pressupõe um discurso coerente, articulado, dominado. Assumir uma responsabilidade pública obriga a dispor dos meios para a cumprir”.
Tal responsabilidade foi assumida em 1984 quando, a convite da Galeria Arcano XXI, participou numa colectiva expondo oito telas. Nesse mesmo ano dirigiu uma nova Galeria de Arte -“São Bento”, organizando o projecto cultural a ela associado.
Em 1988 foi convidado a manter, temporariamente, um atelier no Palácio da Pena. Tratou-se de uma experiência do maior significado, que enriqueceu definitivamente o impulso metafísico na obra do pintor.
A partir de 1985 sucedem-se diversas viagens pela Europa - Holanda, Espanha, Bélgica, Áustria, Itália França e Inglaterra. No mesmo período participa em várias exposições em Lisboa e vê editadas serigrafias. Realiza uma série de estudos cromáticos para edifícios em bairros sociais do Estado, em cidades e vilas portuguesas.
Está representado no Museu da Câmara Municipal do Maputo; na Caixa Geral de Depósitos; no IGAPHE - Instituto do património habitacional do Estado; Grupo Totta; várias instituições públicas; em empresas privadas e em numerosas colecções particulares, portuguesas e estrangeiras.
EXPOSIÇÕES
1959-Individual - Livraria Minerva, Lourenço Marques.
1960-Colectiva - Núcleo de Arte, Lourenço Marques.
1962-Individual -Espaço Poliarte, Lourenço Marques.
1963-Colectiva – “Artists in the Sun” - Joubert Park, Joanesburgo.
Individual - Centro Cultural Português, Joanesburgo.
Individual - Salão de Exposições dos Organismos Económicos, Lourenço Marques.
1964-Individual - Teatro Avenida, Lourenço Marques.
Colectiva-Artistas Moçambicanos - Gallery 101, Joanesburgo.
1971- Colectiva - Salão de Outono - Junta de Turismo da Costa do Sol, Estoril.
1973 - Individual - Casa do Alentejo, Lisboa.
1974 -Colectiva - Modern Art Gallery, Zurique.
1984 - Colectiva - Galeria Arcano XXI, Lisboa.
1985-Colectiva - Galeria de São Bento, Lisboa.
1988-Colectiva - Galeria Artela, Lisboa.
Individual - Galeria Ara, Lisboa.
1990-Individual - Galeria Ara, Lisboa.
1992-Individual - Galeria Ara, Lisboa.
1994-Individual - Galeria Escada 4, Cascais.
Colectiva - Arte Simbólica -Cooperativa de Gravadores Portugueses, Lisboa.
l995 -Colectiva - Museu de Évora, Évora.
1998-Colectiva - Galeria LCR - Sintra.
2000 – Individual – “Jogos Reais”- Museu da Água – Lisboa.
2001 – Colectiva – Galeria L.C.R. Sintra.
Individual -“O Eterno Feminino” - Galeria Art for All - Porto.
2002 - Individual - "O Eterno Feminino" - Pinacoteca Civica di Bondeno - Ferrara, Itália.
2004 – Individual – “Obra Vária”- Galeria LM – Sintra.
2006 – Individual – Galeria Damião de Goes – Embaixada de Portugal - Bruxellas.
2008 - Individual – “O Eterno Feminino”. Museu da Água de Coimbra
Individual – “Vieira o Verbo e a Luz” – Mosteiro dos Jerónimos. Lisboa
2009 – Individual –“Vieira – O Verbo e a Luz”. Museu Municipal de Faro.
Individual – “ Vieira – O Verbo e a Luz” – Biblioteca Municipal de Amarante.
OUTRAS ACÇÕES
1988 - Execução de um conjunto de painéis no átrio do edifício da sede do IGAPHE, em Lisboa.
1986 - 1998 - Lançamento de diversas edições serigráficas.
1988 - Estudos cromáticos para edifícios dos bairros sociais do Estado em cidades e vilas portuguesas.
1995 - Conferência sobre o sentido simbólico e tradicional em Arte – Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.
1997-1998 -“Art for All” edita “litografias” de diversos quadros.
1999 – Hugin Editores publica o ensaio “Tradição e Simbólica do Princípio Real”.157 pags.
2000 – “Arte e Alquimia” Comunicação em “I Colóquio Internacional – Discursos e práticas Alquímicas” – Odivelas.
2001 – “Criador, Criação e Criatura“ Comunicação em “ II Colóquio Internacional A Criação” – Instituto S. Tomás de Aquino. Lisboa.
“Androginia, Hermafroditismo e a Hibridação Social dos Sexos” em III Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas. Lisboa.
2002 - "Simbolismo da Pedra". Comunicação em "IV Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas". Lisboa.
2009 - “Arte Educação e Formação”- conferência. Fundação Marquês de Pombal – Oeiras.
BIBLIOGRAFIA
2001 – Álbum gráfico “Carlos Dugos – Jogos Reais”. Ed. Hugin, Lisboa. 103 pags.
2002 – “AVEEVA“ – catálogo da exposição, em Itália, do ciclo “O Eterno Feminino”. Ed. Cartografica Artigiana – Ferrara. 53 pags.
Catálogo “Os Edifícios a Colecção os Artistas” Ed. Grupo Totta, Lisboa
2006 – Álbum Gráfico “ Carlos Dugos Lisboa – Os Mitos da Memória”. Ed. ACD, Lisboa. 111pags.
2008 – Álbum gráfico “O Eterno Feminino” Ed. Museu da Água de Lisboa – 73 pags.
Álbum gráfico “Carlos Dugos, Vieira – O Verbo e a Luz”. Ed. Centro de Estudos de Filosofia – Universidade Católica. 70 pags.
URL : www.artmajeur.com/carlosdugos



• Carlos Dugos was born in Lisbon in 1942. His first works date back to 1957, yet, one year later, he moved to Lorenzo Marques, then the Capital of Mozambique, where he attended an Art School - under the guidance of the painter João Ayres – and had the opportunity to work with Malangatana, José Júlio, Álvaro Passos and a few other Mozambican artists.
His first individual and group exhibitions where held in Lorenzo Marques and Johannesburg.
Back to Portugal in 1967, Carlos Dugos settled in Lisbon and committed himself to the improvement of oil painting techniques.
In 1974-75 he travelled around Europe; after a period in Zurich, in Madrid he enjoyed the contact with several artists and a good number of Art Galleries and Museums.
Again in Portugal, he spent long periods in Sintra and Ericeira, developing a deep study on symbolism and on the esoteric tradition, as reflected in his first works of “metaphysical” inspiration.
In 1977 he returned to Lisbon and carried on with his studies on symbolism as the spiritual language par excelence. To achieve his aim, he attended a course on theology organised by the “Leoninum Orthodoxum Institutum”, sponsored by Sorbonne, while, simultaneously he developed a long workshop practice, which works have never been exhibited as he considers them to be purely experimental. In one of his notes, in 1980, he wrote: “In Art, an idea - and the feeling that idea is related to - needs an appropriate plastic language in order to be able to express itself properly. The search for that language is constant in me. Exhibiting means having a coherent, articulate and mastered way of communicating. If you accept a public responsibility, you must possess the means to accomplish it.”
Such a responsibility was taken in 1984, when, invited by Arcano XXI Gallery, he took part in a group exhibition with eight canvases of his.
In that same year he became the director of a new art gallery - S. Bento – where he got in charge of a cultural development.
In 1988 he was invited to keep a temporary “studio” in Palácio da Pena. This was a major experience, as this palace, built in the 19th century by the Austrian Prince Ferdinand of Saxe Coburg Gotta, prince-consort in Portugal through his marriage to the Portuguese Queen, Maria II, is unique in its symbolic architecture. His two-year sojourn in that Wagnerian “eagle’s nest” definitely enriched the metaphysical urge in the painter’s work.
From 1985 he travelled around Europe again - Holland, Spain, Austria and Italy. In this same period he took part in several exhibitions in Lisbon and made a number of serigraphic works.
Carlos Dugos did some chromatic studies for public buildings in Portuguese towns and villages.
His work can be seen in Maputo City Hall, in Caixa Geral de Depósitos (the biggest Portuguese Bank), in the IGAPHE (Institute for the State Housing Property), in some other banks, public institutions, private companies and in numerous Portuguese and foreign private collections.
EXHIBITIONS
1959 - Individual - Livraria Minerva, Lorenzo Marques.
1960 - Group - Núcleo de Arte, Lorenzo Marques.
1962 - Individual - Espaço Poliarte, Lorenzo Marques.
1963 - Group - Artist in the Sun - Joubert Park, Johannesburg.
Individual –Centro Cultural Português, Johannesburg.
Individual - Salão de Exposições dos Organismos Económicos, Lorenzo Marques.
1964 - Individual - Teatro Avenida, Lorenzo Marques.
Group - Artistas Moçambicanos - Gallery 101, Johannesburg.
1971 - Group - Salão de Outono - Junta de Turismo da Costa do Sol, Estoril.
1973 - Individual - Casa do Alentejo, Lisbon.
1974 - Group - Modern Art Gallery, Zurich.
1985 - Group - Galeria de São Bento, Lisbon.
1984 - Group - Galeria Arcano XXI, Lisbon.
1988 - Group Galeria Artela.
Individual - Galeria Ara, Lisbon.
1990 - Individual - Galeria Ara, Lisbon..
1992 - Individual - Galeria Ara, Lisbon..
1994 - Individual - Galeria Escada 4, Cascais. Group - Arte Simbólica - Cooperativa de Gravadores Portugueses Lisbon..
1995 - Group – Évora Museum, Évora.
1998 - Group L.C.R. Gallery, Sintra.
1999 - Group – L.C.R. Gallery, Sintra
2000 – Individual – “Royal Games” – Museum of Water, Lisbon.
2001 – Group – L.C.R. Gallery Sintra.
Individual “ The Eternal Feminine” Art For All Gallery. Oporto.
2002 - Individual - "AVE EVA - The Eternal Feminine" - Pinacoteca Civica di Bondeno - Ferrara, Italy.
2004 – Individual – “Obra Vária” LM Gallery, Sintra.
2006 – Individual – Sala Damião de Goes – Portuguese Embassy - Brussells
OTHER INTERVENTIONS
1986/1998 - Edition of several serigraphic works.
1988 - Wall paintings for de foyer of IGAPHE building, in Lisbon.
1988 - Chromatic studies for city council buildings in Portuguese cities and villages.
1995 - Lecture on the “Symbolic and Traditional Meaning of Art” - Institute of Applied Psychology, Lisbon.
1997- - Editions “Art for All” – Lithographic works.
1999 – Hugin Editores – Lisbon, “Tradição e Simbólica do Princípio Real” metaphysical essay. 157 pages.
2000 – “Art and Alchemy” - International Colloquium on Alchemical Speeches and Practices. Odivelas City Hall.
2001 – “Creator, Creation and Creature” Lecture in “International Colloquium- Creation" - Instituto São Tomás de Aquino, Lisbon.
“Androgynous, Hermaphrodite and Sex Social Hybridization”. Lecture in “III International Colloquium on Alchemical Speeches and Practices”. Lisbon.
Graphic album “Carlos Dugos – Royal Games” - Hugin Editors, Lisbon.
2002 - "Symbolism of Stone". Lecture in "IV International Colloquium on Alchemical Speeches and Practices". Lisbon.
BIBLIOGRAPHY
2001 – Graphic Album “Carlos Dugos – Jogos Reais”. Ed. Hugin, Lisbon - 103 pages.
2002 –“Ave-Eva” – catalogue of “The Eternal Feminine” cycle exhibition in Italy. Ed. Cartografica Artigiana, Ferrara – 53 pages.
“Os Edifícios a Colecção os Artistas”. Ed. Grupo Totta, Lisbon.
2006 – Graphic album “Carlos Dugos. Lisboa – os Mitos da Memória”
Ed. ACD, Lisbon 111 pages.
2008 Graphic album « Carlos Dugos - The Eternel Feminin » Ed. Museu da água – Lisbon 74 pags.